Naufrágio de Teresa

A saudade vem
Em um prato frio de comida
Numa noite suja sem estrelas
A palma da mão vazia
E eu desço ao mar pra te encontrar.

Sem poder dizer
O quanto esse lugar é frio
Ou quão profundo foi o corte
O corpo não se mexe
você quis andar sozinho
E eu...

Num caminho esguio
Numa pedra
No silêncio
Ou na solidão do espinho.

Numa fantasia
numa fera
na sentença
Ou na solidão da mira

Nau e navegante se perderam mar adentro
E hoje cantam lá nas pedras
Lá nas pedras do convento

Nau itinerante
Barco à vela ao som do vento
Sentinela
Mar e tempo
Hoje são a sua voz.

Vi Ana

Vi Ana andar entre estátuas
Passear com gigantes e gritar nomes.
Onde o coração não queria,
Lá se encontra o torpor acelerado.

Uma flor entre os dentes,
cerrados,
um sorriso ao revés.

Vi Ana virar outra.
Outro.
A despeito do nome, contrário,
O mesmo ao avesso.

Fazer do tablado salvação
Ofuscada em meio à luz,
Enternecida a escuridão,
Insensata
E voraz
Assaz farol
Esteio o amado.

Carrega o brilho de trinta velas
E um pequeno botão de flor vermelha
Testemunha e divide a mão no sangue.
É que me inspira ver Ana ser.

Vi Ana.

Vi.