Cascas


A lucidez da solidão
das mães, dos porcos.

O silêncio dos rios que transbordam
sem avisos.

E máquinas operantes
levantando cinzentos gigantes
adormecidos
na cidade.

Anseios, e
incertezas lancinantes
trazendo  à memória imagens da minha
esquecida infância: cabelos de minha mãe
mãos de meu pai
entrega de minha irmã
conversa com deus.

Ah rebeldia, esqueci-me de tudo e todos.
Feito os passos
para o paraíso
onde não há lugar
para canções divinas.

Agora
apenas grafite, caneta , poesia,
anseios, e
incertezas dilacerantes.

Sinto muito não
mais poder
falar com deus.

É que se vê com clareza              
misérias que carrego.
Espinhos prontos
ferem
fora, e dentro, fora e dentro
-além dos corpos.

Vê-se com fineza o escopo
mal acabado
de dar dó.

Amontoado de
cascas prontas
e expostas à degustação.

Usadas cascas
recobrindo minha perversa nudez:
insensatez da vida.