Mundo Oposto

Oposto de ontem.
Mundo
Mundo.
Oposto de ontem.

Há posto que seja volúvel
Volátil
Dado às incertezas.

Preso ao presente,
Os papéis mal representados,
A insuportável solidão das escadas.
Quantas vezes as descemos ignorando as paisagens.

Há perigo na esquina,
Mas o meu maior desespero é aquele de um dia não conseguir sentir mais nada.

Pós moderno

No tempo
Em que sonhava
Ser tudo o que minha mente produzia com foco e determinação
Eram meus pés que me enganavam.

Hoje,
Minha mente distrai e confunde.
O meu olhar sobre o tempo e as coisas muda a cada
no máximo
duas horas.

Acordei tão cedo
tão certo
E já estou errando ao meio-dia.

O que será da minha tarde?

Broken Heart Woman

Desce pelas ruas como se não fosse nada
Algum troco ou um papel que não vale nada
Senta na sarjeta
Outro dia
Outra data.
Acende um cigarro
A vida toda é errada, passageira
Como o vento,
feito o tempo,
num intento,
sentimento,
sacramento,
des-contentamento,
pura lágrima.

A Broken Heart Woman!

Pensa num contrário
No seu salário
Ou num salafrário qualquer que lhe faria feliz
Nasce todo o dia o céu,
imenso pra todo mundo.
Alguns sempre a mais, ninguém sempre tem tudo
Desce a vila inteira
Como o tempo,
feito o vento,
sacramento,
descontentamento,
sem sentimento,
seca a lágrima.

A Broken Heart Woman

Num belo dia os deuses deram a visão
e lhe forjaram duro e forte o coração
Pra se perder por entre espinhos e mentiras
Pra ter certeza de que há sempre outra saída.
Para amar, amar e amar mais uma vez.
Quem sabe amar uma pessoa diferente por mês.
Para amar, amar e amar mais uma vez.
Quem sabe amar o mundo todo logo de uma vez.

MUDANÇAS

Ele foi se sentar longe
por querer assim ficar.
Desejou outras visões.

Desejou o mundo
a boca dos anjos,
a bunda de Deus.

A mão do Capeta e a humanidade de Zeus.

As coxas das ninfas,
o pé do Oriente
os braços dos mares
e a mão das estrelas.

Os sonhos dos santos.

As vozes dos chacras,
o ouro dos índios,
os cantos da Ásia.


As formas mudando.
O tempo parando.
A semente nascendo.
Os genes mutando.
O menino crescendo.

E o amor,
Que de tanto existir/insistir,
Fez-se parte da linguagem.

Eita...essa vontade

Sinto essa vontade de mudar tudo de lugar.
De trocar os móveis.
De dar meia volta.
De voltar
De voltar a ir.

Sinto essa imensa paixão pela noite
Pelas horas desperdiçadas
Nesse surdo reino das palavras.

Sinto essa tal vontade
De explorar os desejos mais profundos do coração.

E me parece que é nesse vai e vem de sentir isso e aquilo que a vida realmente acontece.

Naufrágio de Teresa

A saudade vem
Em um prato frio de comida
Numa noite suja sem estrelas
A palma da mão vazia
E eu desço ao mar pra te encontrar.

Sem poder dizer
O quanto esse lugar é frio
Ou quão profundo foi o corte
O corpo não se mexe
você quis andar sozinho
E eu...

Num caminho esguio
Numa pedra
No silêncio
Ou na solidão do espinho.

Numa fantasia
numa fera
na sentença
Ou na solidão da mira

Nau e navegante se perderam mar adentro
E hoje cantam lá nas pedras
Lá nas pedras do convento

Nau itinerante
Barco à vela ao som do vento
Sentinela
Mar e tempo
Hoje são a sua voz.

Vi Ana

Vi Ana andar entre estátuas
Passear com gigantes e gritar nomes.
Onde o coração não queria,
Lá se encontra o torpor acelerado.

Uma flor entre os dentes,
cerrados,
um sorriso ao revés.

Vi Ana virar outra.
Outro.
A despeito do nome, contrário,
O mesmo ao avesso.

Fazer do tablado salvação
Ofuscada em meio à luz,
Enternecida a escuridão,
Insensata
E voraz
Assaz farol
Esteio o amado.

Carrega o brilho de trinta velas
E um pequeno botão de flor vermelha
Testemunha e divide a mão no sangue.
É que me inspira ver Ana ser.

Vi Ana.

Vi.
Meu coração
Andava guardado na gaveta
No bolso de trás da calça
No canto empoeirado
Quarando no varal
Debaixo da unha
No fundo da mochila
No duodeno
No porta-malas
No porta-luvas
Atrás da porta.

E hoje, sem mais ou menos,
Acordei servindo sorrisos ao mundo.