CASA DE PEDRA


Madrugada.

Dirijo-me à casa de pedra
lá se encontra tudo o que sou.


Busco um sonho em forma geométrica
e o que o vento me traz são círculos.
Dilaceram meu corpo e meus espinhos.


Sento-me ereto.
Penso.
Sinto.


Aprendo com estrelas a arte do silêncio
a humildade de brilhar calado.
E sinto-me honrado por ter tanto a aprender.


Suspendo-me.
O vácuo.


Lentamente se instala um vazio


Por um segundo assumo a forma de um vaso.
Aprendo com o nada a arte de permanecer imóvel,
a sabedoria de não existir.


Ouço.
Calo.


Dentro, todo os fogos que não posso apagar.
Fora, os frios que não deixam de chegar.


Outros setembros virão.


Coloco a mão sobre o peito
e me debruço sobre a casa de pedra.


Uma promessa no pensamento:


Fui.


Sou.

A BUSCA


Tanto te procurei
ruas remotas, canções tão tortas
versos em cores pra te enxergar.


Quando dei por mim
me peguei com os seus olhos no pensamento
e é meu contento a acão de esperar.


Não tenho as chaves que guardam o segredo
dos rastros,
a trilha do seu caminhar.
Espero num dia, um outro momento
na vida uma chance de te encontrar.


Eu caí, levantei
bati em portas que nunca se abriram
e há mais de mil portas pra se fechar.

Não dividi, multipliquei
toda a vontade de ser o seu riso
perder o juízo de disfarçar.


E passeei no chão
desilusão.

E num pote de fel eu vi o céu.

Num outro patamar de solução
escorre minha alma no papel.

Permeia as entrelinhas S.O.S
buscando uma senha que me acesse.

Um homem que na vida se perdeu
na busca de algo bem maior que o eu.

VASO CORAÇÃO


Pequenas mãos as tuas
os olhos amendoados.
O resquício da lágrima.

Ah, coração quebrado e despedaçado.

Um dia ajudo-te com os cacos.
Quem sabe não poderemos colá-los?
E se algum se for perdido com amores completaremos teu vaso.

Caberá então, somente a ti, devolvê-lo ao mundo.

E seja o sorriso tua porta de entrada
e more em teu verbo a felicidade
e siga teu sonho a imensidão do mundo.

Existirá em teu vazio um lugar?

Ali deposito um embrulho.
Um sim e um beijo.
Um punhal e um escudo.
Um poema.

E uma nova canção.

Enquanto por aí



Enquanto houver firmamento.
o espaço entre o céu e o chão
No homem habita o segredo:
a vida nas linhas da mão.

Em todos os cantos do mundo,
nos ecos das vozes de Deus,
a dúvida pede um segundo:
serão todos erros tão meus?

Enquanto faltar sentimento,
a paz dentro da compreensão.
As ruas nos dão seus lamentos
sufocados pela visão.

Em todos os verbos do mudo,
nas cores opacas sinais
o mar já não revela tudo,
serão todos homens iguais?

E se todo amor e saudade
sumir no centro desse vão.
No homem ainda mora verdade
sem culpa no sim ou no não.

Vou por aí,

procurar.

O que perdi,

encontrar.

GALOPE


Dessas matas sem o verde,
de uma vida só metade,

folhas pardas, coriáceas,

onde o tempo já parou.


O grão, a semente e o ventre
a terra seca e o vazio.
Carne, homem podre e pobre,
curvas costas
curvo o rio.


Curvatura
turva curva:
vida.


Viva a América Latina!


Tens o anel de Zapata
o amor de teu filho do norte.
E das tribos massacradas
contemplando a sua sorte.


Esperança e aqui se espera
que não venha do mesmo lugar:

o mar.


Do alto da Cordilheira do Andes,
do Canal do Panamá os anjos gritando.

É a terra que chama e chora.

Do planalto central do Brasil, o sangue
e da Terra do Fogo o frio, pulsando.


É a terra que chama e chora
os seus filhos a terra reclamam,
um pedaço de terra na Terra.

Viva a América Latina!