A MADEIRA E O CINZEL

Ando pelas ruas sem mais ter onde chegar,
o meu corpo esqueceu,
minha mente no silêncio.
Já não são mais os versos me fazendo levitar,
os cometas escaldantes
as estrelas fumegantes
ofuscando meu olhar.

E disseram que já vinha e esperei o ano todo.
E disseram que já vinha, mas você mentiu de novo.

Os minutos viram horas, as horas têm meu passado.
Um eterno carrossel.

E eu aqui inebriado
vou tentando ser talhado,
uma luta interminável:
a madeira e o cinzel.

O rebanho segue adiante e o destino é mergulhar
do alto da roda-gigante,
sinto pena dos que como eu só pensam em chegar.

E pensei em quase todos, só não penso em voltar.
Com o olho no futuro e o calcanhar no muro
não saí do meu lugar.

Os pedidos atormentam, minhas preces se distendem,
um eterno vai e vem.
Vejo o mundo delirar numa febre que aferrece
são os olhos de meu pai
que partiu numa canoa e sei o peso que ela tem.

Segurando a sua mão,
e de joelhos no chão
eu fui muito mais além.

Sem tomar conhecimento
do infinito e do tempo
ouço nãos e tudo bem.

Tudo bem!

3 comentários:

Leonardo disse...

O poeta
Declina de toda responsabilidade
Na marcha do mundo capitalista
E com suas intuições, símbolos e outras armas
Promete ajudar a destruí-lo.
Como uma pedreira, uma floresta, um verme

Carlos Drummond de Andrade.

Unknown disse...

eu gostei!!!
E po, faz uma cara que não sei de vc!
bjos

Camila disse...

E não vamos endurecer...

Sempre bom te ler, Andrei!!

Beijoo!!